Quando parar o natalizumab na Esclerose Múltipla? Estudo RESTORE

Por Maramélia Miranda

O uso de Natalizumab (Tysabri) para pacientes com Esclerose Múltipla (EM) na forma remitente-recorrente que não respondem bem ao tratamento com imunomoduladores convencionais, ou para aqueles casos considerados mais graves e agressivos, já é uma estratégia de tratamento da EM bem estabelecida na literatura. Entretanto, tendo em vista o risco maior do desenvolvimento da Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva (LEMP) após o segundo ano de uso dessa terapia, sobretudo nos pacientes com JC vírus positivo e/ou imunossuprimidos previamente, a parada das infusões de natalizumab deve ser um ponto a ser considerado em boa parte dos casos tratados.

tysabri

Os resultados do maior trial clínico prospectivo e randomizado que avaliou a evolução dos doentes quando da parada do natalizumab em pacientes com EM estável sem doença ativa, foram publicados este mês, ASAP, na Neurology. O paper está aberto – Open Access, para assinantes e não-assinantes da revista – AQUI.

Estudo

Foz e colaboradores avaliaram um grupo de 175 pacientes livres de lesões ativas na RM do crânio de base, sem surtos há pelo menos um ano de tratamento com natalizumab, e dividiram estes casos em 3 braços: um para continuar a droga, outro que descontinuou e tomou placebo, e um terceiro grupo que trocou natalizumab por imunomoduladores outros (interferon 1a, glatiramer ou metilprednisolona). Avaliaram sistematicamente todos estes casos quanto à taxa de novos surtos, bem como neuroimagem dos pacientes estudados a cada 4 semanas, a fim de medir a atividade da doença pela RM, ao final da 24. semana de parada do natalizumab.

Resultados

Após 24 semanas de avaliação, as taxas de atividade de doença pela RM foram 46%, 40% e zero, nos grupos placebo, outros imunomoduladores e natalizumab, respectivamente.

Após 24 semanas de avaliação, recorrência de surtos clínicos ocorreram em 17% dos usuários de placebo, 19% dos que usaram outras drogas e em apenas 4% no grupo que continuou o Tysabri.

E agora?

O Tysabri é efetivo nestes casos. Alguém duvida? 

Os imunomoduladores tradicionais, por outro lado, não fazem nem cócegas…

O problema do Tysabri é o uso a longo prazo, sobretudo nos JC positivos e ex-usuários de imunossupressores (veja artigo abaixo), onde há um risco maior do desenvolvimento da LEMP.

Nos casos com JC vírus negativo, não há muita dúvida: tem que deixar o natalizumab enquanto puder, mais de 2 anos… E vai fazendo…

PML-radiopaedia
Exemplo de LEMP em paciente com EM. Fonte: radiopaedia.org.

Nos casos com sorologia positiva, em tese, temos um problema: deixar a droga aumenta a chance de LEMP; descontinuá-la invariavelmente fará com que, segundo este estudo, cerca de 40-50% dos pacientes recorram radiologicamente, e pelo menos 20% tenham novos surtos. E mais: pelo RESTORE, não adianta muito dar imunomoduladores para estes doentes (a atividade da doença pela RM foi quase a mesma com placebo ou drogas outras!)… Comparando cabeça-cabeça as diferentes drogas usadas no RESTORE, o interferon-beta-1a foi um pouco melhor do que o glatiramer e corticóides (embora tenha havido um viés de seleção nos braços do estudo, desfavorecendo o grupo do glatiramer (EDSS maior; provável doença pior) — vejam o artigo todo e tabelas.

JC virus
JC Virus, natalizumab e EM: Beco sem saída?!

 

LINKS

Fox et al. MS disease activity in RESTORE: A randomized 24-week natalizumab treatment interruption study. neurology 2014.

Sormani & Stefano. Natalizumab discontinuation in the increasing complexity of multiple sclerosis therapy. Neurology 2014.

Natalizumab-Associated PML. NEJM 2012.


8 thoughts on “Quando parar o natalizumab na Esclerose Múltipla? Estudo RESTORE”

  1. Olá utilizo o Natalizumabe há 4 anos, agora com intervalo de 7 semanas. Diagnóstico em 2015 com grave surto de crescentes perdas sensitivas e motoras nos membros inferiores e pelve, mas com remissiva quase completa com pulsoterapia Não tinha usado nenhum tipo de medicação anterior devido diagnóstico tardio( muitas lesões antigas e compreensão que 1o surto havia ocorrido 25 anos antes e pequenos surtos nesse intervalo foram ignorados). JVC é positivo e está aumentando gradativamente e já está em 4,05. Quais riscos atuais?

  2. Tenho esclerose múltipla e estou tomando interferona 644 só q tenho muita prisão de ventre e criou algo na cabeça estranho não o k fazer devo pedir a troca do medicação

  3. Tenho esclerose multipla e nao sei o que é esse Jc virus?
    Alguem poderia me esclarecer?

  4. Minha mãe usa Tysabri há 1 ano e 2 meses, mas tenho medo do JC virus positivo atrapalhar o tratamento em breve…

  5. Sou usuária do Natalizumab a 4 anos, sou positivo no JC. E agora? Estou com medo.

  6. Por favor me respondam
    Usei copaxone e avonex e não me aliviou em nada.
    Meu medico indicou Natalizumab.Deu positivo meu exame,estou com muito medo de começar o tratamento.
    Grata

  7. Gostei do teor informativo da materia, gostaria de obter mais material a respeito. Minha filha esta sob tratamento com tysabri e nos estamos esperançosos e ao mesmo tempo inseguros com relação aos riscos.

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