Revisão: Manejo da Hemorragia Subaracnóidea espontânea

Por Maramelia Miranda

Excelente!!! Muito bom mesmo o artigo de revisão sobre HSA, publicado este mês na Cleveland Clinic Journal of Medicine, de autoria principal do nosso colega brazuca Leonardo Manoel, que fez Fellowship em NeuroUTI no St. Michael Hospital, em Toronto, e já voltou à terrinha (para sorte nossa e tristeza dos canadenses).

O artigo revisa todos os aspectos da doença, desde as escalas mais utilizadas, até fluxogramas de atendimento feitos no hospital canadense –> não deixem de ver as Figuras 2, 3 e 5 do artigo!!!! Algoritmos muito bons! O autor do artigo comenta (vejam acima, no link de comentários) sobre o trabalho e envolvimento das equipes para a montagem dos algoritmos de tratamento. Abaixo mais artiguinhos sobre o tema, igualmente interessantes…

hsa

HSA: Atualização 2015!!!

LINKS

Manoel et al. Managing aneurysmal subarachnoid hemorrhage: It takes a team. Cleveland Clinic J Med 2015. Artigo aberto para download.

Manoel et al. Aneurysmal subarachnoid haemorrhage from a neuroimaging perspective. Critical Care 2014. Artigo aberto para download.

Manoel et al. Safety of Early Pharmacological Thromboprophylaxis after Subarachnoid Hemorrhage. Can J Neurol Sci 2014. 

Dor, sede, ansiedade, dispneia e sono: 5 coisas além da monitoração multimodal em UTI…

Por João Roberto Domingues **

Em um ambiente em que estamos cada vez mais imersos na tecnologia e monitorização multimodal, um interessante artigo publicado na Intensive Care Medicine deste mês vem resgatar os cinco principais sintomas relatados por pacientes internados em UTI:

1) Dor: mais do que avaliar um simples “sim” ou “não”, é importante checar a intensidade da dor. Não esquecer que um dos eventos mais relatados geradores de dor é a mudança de decúbito. Nesta avaliação, podemos otimizar as doses e horários dos analgésicos que também influenciam em um menor tempo de pacientes em ventilação mecânica e permanência na UTI;

2) Sede: um dos mais prevalentes e intensos sintomas observados na UTI, e ainda assim pouco valorizado. Devemos ter uma especial atenção a pacientes recebendo doses maiores de morfina (acima de 50mg por dia) e de furosemida (mais do que 60mg por dia); 

3) Ansiedade: avaliada inclusive por cartões de desenhos, pode ser manejada por alterações no ambiente, como música, acompanhamento de familiares ou profissional, e uso de sedativos;

4) Dispnéia: mais da metade dos pacientes em ventilação mecânica não totalmente sedados queixam-se de dispnéia. Este sintoma também pode ser avaliado através de escalas visuais, e deve ser acompanhado por uma fisioterapeuta experiente;

5) Insônia ou sono não reparador: frequentemente relacionado ao delirium, é um sintoma que pode ser corrigido por um melhor controle do ruído do ambiente, inclusive dos alarmes dos monitores, da luz, dos horários das coletas dos exames da rotina, Rx e administração de medicamentos, além da correta administração de sedativos ou indutores de sono.

Os autores concluem que a má avaliação e condução destes sintomas levam o paciente à um maior sofrimento, falência no desmame da ventilação mecânica e delirium.

ICU

Que tal olhar e conversar mais com os pacientes?

LINK

Chanques, Nelson & Puntillo. Five patient symptoms that you should evaluate every day. Intensive Care Med 2015.

** Dr. João Domingues é neurologista e neurointensivista dos Hospitais Santa Paula e Samaritano, ambos em São Paulo.

Large Hemispheric Infarct: Evidence-based Guideline publicado!

Por Maramelia Miranda

Saiu “online first” no último dia 21 (semana passada), na revista Neurocritical Care.

O artigo é um resumo das principais evidências existentes hoje no manejo neurointensivo do infarto hemisférico maligno da artéria cerebral média.

Assim que terminar a leitura postarei os highlights do documento.

LINK

Torbey et al. Evidence-Based Guidelines for the Management of Large Hemispheric Infarction. Neurocritical Care 2015.

Consenso da European Stroke Organisation sobre Hemorragia Intracraniana espontânea

Por Rennan Ribeiro ** e Maramélia Miranda

A ESO – publicou no mês passado o seu guideline sobre o manejo da Hemorragia Intracraniana espontânea. A seguir, transcrevo os principais pontos do documento.

ICH-CT

LINKS

Steiner et al. European Stroke Organisation Guidelines for the Management of Spontaneous Intracerebral Hemorrhage. Int J Stroke 2014.

** Rennan Ribeiro é enfermeiro da NeuroUTI do Hospital São Paulo, preceptor do Programa de Residência da Enfermagem em Neurologia & Neurocirurgia / Cuidados Intensivos.

Infarto hemisférico: Consenso 2014

Por Maramélia Miranda

Pela primeira vez é publicado um consenso sobre infarto hemisférico (IH), reunindo recomendações focadas na área de terapia intensiva neurológica, desenvolvido pela Neurocritical Care Society e pela German Society of Neurointensive Care and Emergency Medicine.

TC-IH3

O documento, que usou o sistema de graduação de evidência denominado GRADE system, definiu infarto hemisférico, ou, transcrevendo literalmente o texto em inglês – “Large Hemispheric Infarct”, como um AVC isquêmico afetando o território total (ou subtotal) da artéria cerebral média, com envolvimento pelo menos parcial dos gânglios da base.

O sistema GRADE considera a qualidade dos níveis de evidência (alta, moderada, baixa ou muito baixa) e os graus de recomendação (forte – conduta ou terapia recomendada; ou fraca, terapia, procedimento ou recomendação sugerida pelos autores).

A seguir, transcrevo os principais pontos do documento, ainda não publicado, que foi apresentado em sessão especial no recente congresso da Neurocritical Care Society, em Seattle:

  • Entubação para IH em pacientes com deterioração neurológica e/ou insuficiência respiratória (strong)
  • Indicação de hemotransfusão com algo de Hb >7g/dL para a maioria dos casos de IH (strong).
  • Interpretar os sinais precoces de hipodensidade na TC e RM para predição de edema maligno após IH (strong)
  • Uso de TCCD, PE auditivo / tronco e EEG no auxílio de predição de edema maligno após IH (weak)
  • Uso da menor dose de sedativos necessária, pelo menor tempo possível, evitando apenas instabilidades fisiológicas durante o tempo da Neuro-UTI, e desconforto/dor (strong).
  • Uso de controle intermediário de hiperglicemia (alvo:  140-180mg/dL) (strong).
  • Manter PA média > 85mmHg, e reduzir PAS para <180mmHg apenas quando esta exceder >220mmHg (strong)
  • Usar osmoterapia com manitol ou solução salina hipertônica para o tratamento de edema cerebral, com a adequado monitoramento (strong)
  • Evitar uso de terapia com corticóides e barbiturados (strong)
  • Profilaxia para TVP/TEP com heparina de baixo peso em todos os casos de IH (strong).
  • Em pacientes com fonte cardioembólica de alto risco, recomeçar anticoagulação oral  (ACO) em 2-4 semanas do IH (weak)
  • Recomeçar ACO mais precocemente baseado na avaliação de casos com maior risco de embolia (valvulopatias, válvulas biológicas ou metálica, trombo no ECO TE) e risco de sangramento (weak)
  • Uso de aspirina no período pré-ACO é recomendado (weak)
  • Mobilização precoce nos casos hemodinamicamente estáveis (strong)
  • Extubação para pacientes com tentativas de sucesso de respiração espontânea, que tenham reflexo de tosse eficaz para eliminação das secreções pulmonares (strong)
  • Traqueostomia para pacientes que falharam na extubação, ou quando este procedimento não será possível / viável nos primeiros 7-14 dias (weak).
  • Colocação precoce de sonda enteral nos pacientes com disfagia (weak)
  • Discussão com familiares para colocação de gastrostomia em casos de IH com NIHSS altos e disfagia persistente entre as semanaas 1-3 da estadia na Neuro-UTI (weak).

International Symposium of Neuro-Intensive Care (ISNIC) – Rio de Janeiro

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O International Symposium of Neuro-Intensive Care – ISNIC 2014 é a sequência de 3 edições bem sucedidas do Simpósio de Neurointensivismo do Rio de Janeiro. 

Vários convidados internacionais. Cursos pré-congresso. Curso do ENLS (Emergency Neurological Life Suport). Tópicos quentíssimos, discutidos recentemente no congresso da Neurocritical Care Society.

E para quem mora do Sul / Sudeste, pertíssimo! Aqui do ladinho, na cidade maravilhosa.

AGENDA:

Data: 30 out e 01 nov 2014

Local: Colégio brasileiro de Cirurgiões – CBC – Rio de Janeiro

Rua Visconde Silva 52, Botafogo, R. Janeiro, RJ

PROGRAMA AQUI

Congresso Einstein / Cleveland Clinic de Neurociências 2014

Atenção – Guardem as datas!!!!! Falta pouco mais de um mês!!!!! 

Este congresso é diferente pela possibilidade de poder participar de forma OnLine, fazendo sua inscrição e assistindo às palestras à distância, de qualquer lugar do Brasil…!!!!!! 

V Congresso Internacional de Atualização em Neurociências Hospital Israelita Albert Einstein e Cleveland Clinic

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DATAS: 10 e 11 de outubro de 2014

LOCAL: Hospital Israelita Elbert Einstein – São Paulo

PROGRAMA COMPLETO — AQUI

Palestrantes Internacionais Confirmados

  • Alberto Ascherio (Esclerose Múltipla) 
    Professor de epidemiologia e nutrição de Harvard School of Public Health PhD de Harvard University
  • Andre Machado (Parkinson)
    MD, PhD Diretor do Centro de Restauração Neurológica da Cleveland Clinic, “Neurological Institute”
  • Daniel Ontaneda (Esclerose Múltipla)
    MD Médico Mellen Center para Esclerose Múltipla, da Cleveland Clinic, “Neurological Institute”
  • João Gomes (Neurointensive Care)
    MD no centro de doenças cerebrovasculares da Cleveland Clinic “ Neurologic Institute”
  • Peter Rasmussen (Neurologia Vascular)
    MD Diretor do Centro de Doenças Cerebrovasculares da Cleveland Clinic,“Neurological Institute”

Consenso sobre Monitorização Multimodal intracraniana publicado!

Saiu.

A revista Neurocritical Care publicou em 10 de setembro último um consenso internacional, concomitantemente com a apresentação do paper no congresso em Seattle.

O artigo estará disponível apenas para assinantes da revista e membros da NeuroCritical Care Society. Além dele, outros papers falando sobre os diferentes tipos de monitorização também foram publicados. Muitas coisa para estudarmos nas próximas semanas!

Ainda não li. Apenas assisti a apresentação que ocorreu aqui em Seattle. A maioria das recomendações e opiniões do artigo apresentam níveis de evidencia questionáveis, como muitas das coisas em Neurointensivismo… E comentam basicamente sobre as indicações dos diferentes tipos de monitorização, sem detalhamento sobre terapias. Quem quiser dar sua opinião sobre o artigo e sobre as “novas” recomendações, mandem-me o email com suas observações e terei o maior prazer em publicá-las aqui!

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LINK

Le Roux et al. Consensus Summary Statement of the International Multidisciplinary Consensus Conference on Multimodality Monitoring in Neurocritical Care. Neurocritical Care 2014.

Todos os papers do grupo:::: CLIQUE AQUI, e navegue na homepage de publicações Online First…

Crédito da foto: www.academiska.se.

Fingolimod melhora desfechos clínicos e reduz edema em hematomas intracranianos. O que?! Tem certeza?!

Por Maramelia Miranda

Sim! Não há nenhum erro no título da notícia. Um estudo muito “estranho” foi recentemente publicado na JAMA Neurology…

Assim que vi o resumo, pensei logo: Seraaaaá?!?!?!?!!?:!

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Que esquisito… O mesmo medicamento oral usado para esclerose múltipla – o fingolimod (Gilenya) – foi testado por pesquisadores chineses, com o racional de que os seus efeitos antiinflamatórios podem reduzir o edema peri-hematoma e consequentemente a lesão cerebral secundária a este, presente na hemorragia intracerebral.

ICH-CT

 

Ying Fu e seus colegas publicaram os resultados do uso de fingolimod em um pequeno grupo de pacientes com AVCh supratentorial, com volumes de hematoma variando de 5 a 30ml, testando dois braços de tratamento:

  • ativo, com fingolimod por 3 dias + tratamento conservador convencional;
  • tratamento conservador apenas.

O estudo foi aberto, cego apenas para os avaliadores dos desfechos. A dose usada foi de 0,5mg ao dia por 3 dias, administrada até o máximo de 1h da primeira TC de crânio, até o máximo de 4 dias (72h) após o início dos sintomas do AVCh. 

Os pacientes tratados com a droga tiveram menor incapacidade neurológica. Os números apresentados são meio… Como posso dizer?! São números “inacreditáveis”!!!!!… Chocantes. Nem vou traduzir os resultados do texto. Farei a transcrição exata do que está escrito no Abstract para que vocês possam ler com seus próprios olhos::::

Results.  Patients treated with fingolimod exhibited a reduction of neurologic impairment compared with control individuals, regained a Glasgow Coma Scale score of 15 by day 7 (100% vs 50%, P = .01), and had a National Institutes of Health Stroke Scale score reduction of 7.5 vs 0.5 (P < .001). Neurologic functions improved in these patients in the first week coincident with a reduction of circulating lymphocyte counts. At 3 months, a greater proportion of patients receiving fingolimod achieved full recovery of neurologic functions (modified Barthel Index score range, 95-100; 63% vs 0%; P = .001; modified Rankin Scale score range, 0-1; 63% vs 0%; P = .001), and fewer reported ICH-related lung infections. Perihematomal edema volume and rPHE were significantly smaller in fingolimod-treated patients than in control individuals (Ev at day 7, 47 mL vs 108 mL, P = .04; Ev at day 14, 55 mL vs 124 mL, P = .07; rPHE at day 7, 2.5 vs 6.4, P < .001; rPHE at day 14, 2.6 vs 7.7, P = .003, respectively). We recorded no differences between groups in the occurrence of adverse events.”

Resumindo o texto aí, o que relatam no abstract é o seguinte:

  • Escala de coma de Glasgow de 15 pontos no dia 7 em todos os casos do grupo ativo, versos 50% no controle;
  • Queda da escala do NIH de 7,5 pontos vs 0,5 (P < 0,001);
  • Barthel entre 95-100 pontos em 63% vs 0% (P = 0,001);
  • Rankin de 0-1 em 3% vs 0% (P = 0,001);
  • Edema perihematoma menor no grupo que usou a droga (todos os achados com p significativo).

Impressões

Gente… É o seguinte: não li o artigo inteiro ainda, mas é espantosa a diferença entre o tratamento ativo e o grupo controle relatada… O estudo ainda está em andamento, recrutando pacientes, é fase 2. Pelo site www.clinicaltrials.gov, este trial na verdade está registrado para testar o fingolimod tanto em AVCh – hematomas, quanto em AVCi, do tipo TOAST aterosclerótico de grandes artérias!!!! 

Os resultados apresentados referem-se a um grupo bem pequeno de pacientes. Compararam 11 pacientes que usaram a droga versus 12 controles. O estudo foi “open-label” (não duplo-cego).

As escalas usadas para medidas de desfechos são a escala de comas de Glasgow (achei meio estranho esta escala entrar como medida de desfecho), além do Barthel, NIHSS e Rankin. E outro detalhezinho bem importante: no site de registro, não há financiamento pela indústria – leiam o resumo do trial AQUI (www.clinicaltrials.gov).

Ou seja, um estudo realmente inédito, aparentemente bem inovador, e um tanto provocador para as nossas mentes acostumadas com o razoável e a lógica. Será uma luz no fim do túnel de uma doença sem nenhum tratamento específico até hoje?!

confused baby

Alguém que tiver acesso a essa revista, poderia me mandar este artigo, please!? Estou algo confusa (e chocada…). 

PS. Tem editorial da JAMA comentando o estudo.

LINKS

Fu et al. Fingolimod for the Treatment of Intracerebral HemorrhageA 2-Arm Proof-of-Concept Study. JAMA Neurology 2014.

Sheth & Rosand. Targeting the Immune System in Intracerebral Hemorrhage. JAMA Neurology 2014.