Cavernomas: Como tratar?

A metanálise recentemente publicada na Lancet Neurology avaliou 1620 pacientes em séries retrospectivas previamente publicadas, e a evolução dos pacientes estudados. Analisando as 7 séries de pacientes, houve um risco de hemorragia intracraniana no follow-up de 5 anos de:::

— 3,8% em casos com cavernomas extra-tronco cerebral sem apresentação inicial de hemorragia ou déficit neurológico;

— 8% de risco nos casos de cavernomas de tronco com a mesma apresentação (sem hematomas ou déficits);

— 18,4% de risco de hemorragia em casos extra-tronco que haviam sangrado antes, ou apresentado sinal focal;

— 30,8% de risco de sangramento em 5 anos, nos casos de tronco com déficit ou sangramento prévios.

Ou seja, vai piorando — nesta ordem… Resumindo a ópera, a localização, e modo de apresentação iniciais, são fatores independentes relacionados ao prognóstico de sangramento intracerebral nos pacientes com cavernomas.

O artigo está free no site da Lancet Neurology. O editorial também…

Bem interessante. Para nos ajudar no manejo dos casos sintomáticos e assintomáticos.

LINKS

Horne et al. Clinical course of untreated cerebral cavernous malformations: a meta-analysis of individual patient data. Lancet Neurology 2016.

Algra & Rinkel. Prognosis of cerebral cavernomas: on to treatment decisions. Lancet Neurology 2016. Editorial.

EuroTherm3235: Hipotermia foi ruim no TCE grave

Na verdade, hipotermia com alvos de temperatura entre 32-35 graus foi pior do que não fazê-la. O estudo foi terminado pelas questões de segurança…

Na escala de outcomes de Glasgow extendida, um dos desfechos medidos do estudo, o desfecho favorável (GOS-E entre 5-8) ocorreu em 26% do grupo com hipotermia, e 37% nos controles (P=0.03)…

O artigo e seu editorial estão com acesso livre na homepage da NEJM.

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LINKS

Andrews et al. Hypothermia for Intracranial Hypertension after Traumatic Brain Injury. NEJM 2015.

Robertson & Ropper. Getting Warmer on Critical Care for Head Injury. NEJM 2015. Editorial sobre os resultados do EuroTherm3235.

Aneurismas intracranianos não rotos: Mais um escore publicado

Saiu hoje na Neurology. Acesso livre, PDF aberto. Comecei a ler e ficar preocupada com minha burrice.

Que-escore-é-este?!

Li, reli, trili, tetra-li.

E não entendi (quase) nada. Parece ser um escore feito por um consenso de experts, escala que contém duas colunas, 49 (sim, 49!) variáveis, números à direita, esquerda, e um número final… A favor ou contra o tratamento do aneurisma cerebral.

Bem, escore é bom, eu gosto, confesso, nos ajuda em algumas doenças, ajuda em pesquisas, em seguimento clínico, mas um bom escore tem que ser mais, digamos, “simples”… Senão não vai pegar.

Sabem a teoria do Baby Steps? Passinhos de bebê? Em tecnologia? Isso também vale pra estas coisas. Que o diga a velha e boa escala de coma de Glasgow, uma das mais difundidas e, salvo engano, a mais aplicada em Neurologia no mundo.

Curiosos?

VEJAM O ESCORE AQUI. 

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Jesus Christ!!!! Que escore é esse?!

 

LINK

Etminan et al. The unruptured intracranial aneurysm treatment score A multidisciplinary consensus. Neurology 2015.

Diretriz da AHA/ASA sobre manejo de aneurismas cerebrais incidentais

Por Leticia Duarte

Publicado online no site da Stroke, em 18 de junho (semana passada).

LINKS

Thompson et al. Guidelines for the Management of Patients With Unruptured Intracranial Aneurysms. A Guideline for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke 2015.

Escore PHASES para predição de ruptura de aneurismas incidentais. Post sobre a escala PHASES, preditora de ruptura de aneurismas cerebrais incidentais.

 

** Dra. Leticia Duarte é pós-graduanda da Neurovascular e Doppler Transcraniano da UNIFESP.

Neuro-Notícia do dia: “Paciente canta e toca violão durante cirurgia no cérebro”

Pára tudo.

Essa eu vi hoje, em várias homepages das principais do país. Foi notícia em tudo quanto foi lugar.

Eu, curiosa, fui atrás… E confesso que fiquei “incomodada”…

Como assim? Então pediram para o paciente cantar durante a retirada de um tumor cerebral presumivelmente no hemisfério esquerdo (pela posição do paciente na foto e vídeos postados)…? Para verificar se não seria atingida a área da fala (linguagem)?

Caros neuro-nautas…: Tá certo isso?! Ou tem algum possível furo nesta conduta dos colegas catarinenses?

Leiam abaixo. Vários papers com acesso livre (artigo completo).

Interessante para sabermos que uma parcela de pacientes afásicos motores podem, sim, cantar perfeitamente. Essa é, inclusive, uma estratégia realizada em terapias de reabilitação de afásicos.

Então a pergunta que não quer calar é: Pode-se fazer um mapeamento cerebral intraoperatório durante uma cirurgia do tipo “awake-neurosurgery” pedindo-se para o paciente cantar?

Divirtam-se. Muitos papers sobre o tema.

LINKS

Akanuma et al. Singing can improve speech function in aphasics associated with intact right basal ganglia and preserve right temporal glucose metabolism: Implications for singing therapy indication. Int J Neurosci 2015. 

Callan et al. Song and speech: brain regions involved with perception and covert production. Neuroimage 2006. 

Hymers et al. Neural mechanisms underlying song and speech perception can be differentiated using an illusory percept. Neuroimage 2015.

Stahl et al. How to engage the right brain hemisphere in aphasics without even singing: evidence for two paths of speech recovery. Front Hum Neurosc 2013.

Kil-Byung et al. The Therapeutic Effect of Neurologic Music Therapy and Speech Language Therapy in Post-Stroke Aphasic Patients. Ann Rehab Med 2013.

Guideline de AVC Hemorrágico: Novíssimo!!!!

Por Jorge Murilo B Sousa **, Letícia Duarte e Maramelia Miranda

Diretriz da AHA/ASA, publicada neste final se semana na Stroke.

ICH-CT

Maiores novidades

Algumas bem importantes, mas as principais, com certeza, foram a atualização dos resultados do estudo INTERACT2, e comentários sobre as novas terapias neurocirúrgicas, bastante comentadas no texto e nas recomendações finais… Interessante a parte neurocirúrgica do documento…

— Recomendação de manter PA < 140mmHg em pacientes com PAS 150-220mmHg (do INTERACT2) –> recomendações IIa/B (pode melhorar desfecho) e I/A (é seguro); Em pacientes com PAS > 220mmHg, redução agressiva com drogas EV e monitorização intensiva é recomendada (IIb/C);

— Recomendação de screening formal para disfagia e IAM nos pacientes com AVCh;

— Citações sobre as “novas” terapias “incertas”, por causa dos estudos cirúrgicos em andamento (CLEAR, MISTIE), sobre uso de rTPA intraventricular, tratamento endoscópico para drenagem de hematomas intraventriculares e cirurgias minimamente invasivas (endoscopia ou estereotaxia)… Atentar que o documento fala sobre baixas taxas de complicações e que a eficácia e segurança destas novas terapias é incerta. Como sabemos, estas citações são o começo do que pode vir em documentos futuros, ous eja, potenciais terapias promissoras… Todas estas terapias cirúrgicas são classificadas com IIb/B;

— Estudos testando as terapias de DVE x DVE +rTPA em Hemorragia intraventricular — mostraram taxas de mortalidade de 30-47% x 10-23%, respectivamente

— Drenagem cirúrgica endoscópica – terapia nova descrita em séries de casos

— Hemicraniectomia descompressiva com ou sem drenagem do hematoma em pacientes muito graves pode reduzir mortalidade –>  Classe IIb / Evidencia C.

Obs. Post atualizado em 22 junho 2015.

LINKS

Hemphill et al. Guidelines for the Management of Spontaneous Intracerebral Hemorrhage: A Guideline for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke 2015.

 

** Jorge Murilo B. Sousa é neurologista, pós-graduando em Neurologia Vascular e Neurointensivismo na UNIFESP. Antenadíssimo, já chegou hoje no hospital comentando do guideline novo!!!!!!!

VASOGRADE: Vai ou não vai ter DCI?????

Atenção caros internautas-neuros.

Vasoespasmo é uma coisa.

Vasoespasmo sintomático é outra.

Isquemia cerebral tardia (DCI – delayed cerebral ischemia), ainda outra. Ops!!!!! Você não sabe o que é isquemia cerebral tardia ?!?! Pára tudo e aperta o botão Rewind já!!!!!

Os termos estão imbricados na “doença” vasoespasmo / hemorragia subaracnoidea, coisa que ainda não sabemos muito bem, de onde vem, nem porque se manifesta apenas em alguns, em outros não, como fica tão grave em alguns, em outros não…

Ou seja, como bem diz um neuro dos “velhos”: Entre as grandes perguntas da neurologia, algumas delas são: o que é vasoespasmo?!? como evitar, como prevenir, como tratar vasoespasmo?!??!

Quem quiser fazer qualquer tese, pode estudar isso, que consegue publicações em várias revistas. Muitas coisas ainda para descobrir.

E para tentar responder a perguntinha do título deste post, vários autores já publicaram tentativas de predizer se um paciente vai ou não ter DCI…

Publicado online first na Stroke deste mês, artigo fresquinho saído do forno, sobre o uso da escala VASOGRADE, validada numa coorte de pacientes com HSA (de dois estudos clínicos fase II e uma séria canadense). Atenção: autor brasileiríssimo, Airton Leonardo Manoel, que agora está no Hospital Albert Einstein. O mesmo das revisões de HSA que postamos aqui algumas semanas atrás.

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Vale a pena conferir.

LINK

de Oliveira Manoel et al. The VASOGRADE. A Simple Grading Scale for Prediction of Delayed Cerebral Ischemia After Subarachnoid Hemorrhage. Stroke 2015.

 

 

Escore PHASES para predição de ruptura de aneurismas incidentais

Por Leticia Duarte ** e Maramelia Miranda

tags: PHASES, escore PHASES, ruptura de aneurisma incidental, aneurisma cerebral, aneurismas não-rotos.

Mais um escore.

Para os adeptos, boa! Eu, por exemplo, adoro.

Para quem não é muito fã de escores e escalas, péssima notícia! Muita gente torce o nariz pra estas escalinhas.

Se quiser, use, se não quiser, não dê bola. O fato é que, inegavelmente, o escore PHASES veio pra “balançar” a literatura dos aneurismas não-rotos.

Pode nos ajudar no processo decisório, é mais um número que temos para mostrar aos pacientes e familiares, ou, pelo contrário!!!! Pode ser que não surta nenhum efeito na cabeça ansiosa dos pacientes que tem descobertos os aneurismas incidentais.

Sabemos hoje desta verdadeira epidemia de angiotomos e angiorressonâncias com achados de aneurismas silenciosos, quetinhos, calados, lá na deles… Que de repente afloram para atormentar o sono de seus donos.

Cada vez mais tem importância alguma forma de predizer o risco de ruptura destes aneurismas.
Com este mote, os autores publicaram em Janeiro deste ano a proposta do escore PHASES, que usa variáveis sabidamente relacionadas ao risco de ruptura, observados nos maiores estudos prospectivos em aneurismas cerebrais. A seguir, clique na figura para vê-la ampliada (ainda não aprendi como fazer tabelas aqui 🙂 ).

PHASES

Quem preferir, pode baixar o aplicativo para celulares chamado NeuroMind, disponível para Android e iOS, que já está (óbvio!!!!) devidamente atualizado com o escore PHASES. A partir dele, pode-se calcular diretamente o escore do paciente.

Senti falta: não levaram em consideração o formato do aneurisma. Afinal, o que acham? Um aneurisma de cerebral média redondinho de paredes lisas é o mesmo que outro no mesmo local, na mesma pessoa e do mesmo tamanho, mas bilobulado?

LINKS

Greving JP, Wermer MJH, Brown Jr RD, Morita A, Juvela S, Yonekura T, Torner JC, et al. Development of the PHASES score for prediction of risk of rupture of intracranial aneurysms: a pooled analysis of six prospective cohort studies. Lancet Neurology 2014.

** Dra. Leticia Duarte é pós-graduanda da Neurovascular e Doppler Transcraniano da UNIFESP.

Vasoconstricção reversível

tags: vasoconstricção reversível, SVCR, RCVS, vasculopatia não-inflamatória, Call-Flemming, vasculopatia puerperal, vasoconstricção cerebral, vasoconstricção cerebral reversível.

Em homenagem ao caso belíssimo do Dr. Michel Frudit, mostrado esta semana na reunião multidisciplinar de Neurovascular, para os interessados, dois artigos quentíssimos de revisão a AJNR sobre a RSVC – em inglês, Reversible Cerebral Vasoconstriction Syndrome. Em bom português, mais simples, vasoconstricção reversível.

Artigos FREEEEEEEEEEE!

Oba!!!! Corram antes que a AJNR feche o acesso!!!!

Cliquem na imagem abaixo::: Um caso de uma mulher adulta de 40 anos, que teve cefaleia intensa, recorrente, padrão súbito, com TC mostrando sangramento – HSA, com padrão cortical.

rcvs

Ah vá!!!!! Todos nós (neuroclínicos, neurocirurgiões, neuroendovasculares) vemos isso, vez ou outra. Com certeza, vocês já tiveram um caso de síndrome de vasoconstricção reversível, ou mais de um…!!!!!!!!

Certamente… E vão ver mais e mais…

Vejam a RM e a arterio deste casinho aí em cima…

FLAIR 1   <– Sangramento cortical no FLAIR

MRA 13  MRA 9

Fonte das imagens: arquivo pessoal; ao usar em suas aulas, favor citar os créditos. 🙂

***

Então… Vamos estudar?!

Depois voltarei com os pontos chaves dessa doencinha esquisita, caprichosa e interessante, de curso benigno, mas que deve ser reconhecida, para não ser chamada POR AÍ AFORA de:::

— HSA-angio-negativa

— Trombose de veia cortical

— Vasculite do SNC

Não inventem de baixar muito a pressão dos pacientes!!!!

Não fiquem pedindo Dopplers transcranianos (DTCs) diários, ou a cada 2-3 dias, para “acompanhar” o “vasoespasmo” da “HSA”… (estranhando as aspas!? Sinto muito. Precisa estudar!)

Não vão falar pra a família dos pacientes que “o aneurisma não foi localizado”.

Nem inventem de pulsar os pacientes, pelo AMOOORRRRRRR!!!!!!!!!!!

Please, não me decepcionem!!!!!

LINKS

Miller et al. Reversible Cerebral Vasoconstriction Syndrome, Part 1: Epidemiology, Pathogenesis, and Clinical Course. AJNR 2015.

Revisão: Manejo da Hemorragia Subaracnóidea espontânea

Por Maramelia Miranda

Excelente!!! Muito bom mesmo o artigo de revisão sobre HSA, publicado este mês na Cleveland Clinic Journal of Medicine, de autoria principal do nosso colega brazuca Leonardo Manoel, que fez Fellowship em NeuroUTI no St. Michael Hospital, em Toronto, e já voltou à terrinha (para sorte nossa e tristeza dos canadenses).

O artigo revisa todos os aspectos da doença, desde as escalas mais utilizadas, até fluxogramas de atendimento feitos no hospital canadense –> não deixem de ver as Figuras 2, 3 e 5 do artigo!!!! Algoritmos muito bons! O autor do artigo comenta (vejam acima, no link de comentários) sobre o trabalho e envolvimento das equipes para a montagem dos algoritmos de tratamento. Abaixo mais artiguinhos sobre o tema, igualmente interessantes…

hsa

HSA: Atualização 2015!!!

LINKS

Manoel et al. Managing aneurysmal subarachnoid hemorrhage: It takes a team. Cleveland Clinic J Med 2015. Artigo aberto para download.

Manoel et al. Aneurysmal subarachnoid haemorrhage from a neuroimaging perspective. Critical Care 2014. Artigo aberto para download.

Manoel et al. Safety of Early Pharmacological Thromboprophylaxis after Subarachnoid Hemorrhage. Can J Neurol Sci 2014.