Uso de antitrombóticos e procedimentos cirúrgicos: Quando e como parar ou voltar?

tags: AAS, extração dentária, varfarina, marevan, coumadin, parada de antiagregantes, anticoagulantes.

Por Maramelia Miranda

É um deja vú reincidente: “Doutor, preciso fazer um tratamento dentário. Como faço com o AAS (ou clopidogrel? ou warfarina?)???”

Recente publicação da American Academy of Neurology traz recomendações sobre a conduta no manejo de antitrombóticos em pacientes com doença cerebrovascular que precisam realizar procedimentos cirúrgicos. Apesar de não haver muitos estudos clínicos de boa qualidade científica, em geral, as recomendações principais baseadas nas evidências encontradas são:

  • A aspirina deve ser mantida em procedimentos dentários (Nível A), e sua manutenção pode ser segura em alguns outros tipos de procedimentos cirúrgicos menores, como anestesia ocular invasiva, cirurgia de catarata, cirurgias dermatológicas, biópsia de próstata transretal guiada por US, procedimentos epidurais e cirurgia de túnel do carpo (Níveis B e C). 

  • Quanto à warfarina, os pacientes devem continuar o seu uso em procedimentos dentários (Nível A), e em pequenos procedimentos dermatológicos (Nível B). Há maior dúvida em casos de ENMG, procedimentos prostáticos, hérnia inguinal e cirurgias vasculares periféricas pequenas (a diretriz refere-se como “…should possibly continue warfarin” – Nível C). Em casos de polipectomias por colonoscopia, provavelmente a manutenção da warfatina aumenta o risco de sangramento (Nível C).
  • Há pouca evidência a favor ou contra o uso de terapia de ponte (bridging) com heparina, quando queremos retirar ou voltar com a warfarina (Nível U). 

  • A terapia de ponte com heparina parece aumentar o risco de sangramento, quando comparada com a simples manutenção da warfarina (Nível B).

  • Deve ser informado ao paciente e familiares sobre o risco aumentado de risco de AVC isquêmico em casos de parada do antitrombótico, particularmente por período ≥7 dias (Nível B).

Guideline na íntegra: Armstrong MJ, Gronseth G, Anderson DC, et al. Summary of evidence-based guideline: Periprocedural management of antithrombotic medications in patients with ischemic cerebrovascular disease: Report of the Guideline Development Subcommittee of the American Academy of Neurology. Neurology 2013;80:2065-2069.

 

Classificação Internacional de Cefaleias, 3a. Edição

tags: ICHD3 beta, cefaleias, classificação, edição 2013, migrânea crônica.

Por Maramelia Miranda

Após o recente Congresso Internacional de Cefaleias, ocorrido no último final de semana em Boston, foi lançada e publicada a terceira edição da Classificação Internacional de Cefaleias – originalmente “International Classification of Headache Disorders – 3rd. edition / beta version”, ou simplesmente ICHD3 – beta.

IHS classification

Na Cephalalgia, o editorial de Jes Olesen, chairman do documento, ressalta as principais mudanças da nova versão em relação à anterior (de 2004), e a importância de aplicação desta atualizada classificação na prática clínica, nos próximos anos, em uma fase de “teste” e “ajustes” para a publicação da versão final do documento, planejada para 2016.

Mudanças

Uma das principais diferenças em relação à classificação anterior (2nd edição) foi a incorporação do diagnóstico de enxaqueca crônica (definida como dor característica de enxaqueca, por pelo menos 15 dias no mês, por pelo menos 3 meses), assim como já acontece com a cefaleia tensional, que pode ser episódica ou crônica.

É importante ressaltar que a aplicação da nova classificação pela comunidade neurológica, bem como o feedback dos neurologistas quanto a algum detalhe ou ajuste de nomenclaturas, critérios ou definições, podem ser enviados diretamente por email, ao chairman da ICHD3 – beta ou aos coordenadores de sub-grupos (a listagem consta no documento).

 LINKS

Olesen J. ICHD-3 beta is published. Use it immediately. Cephalalgia 2013.

ICHD3 beta. International Classification of Headache Disorders, 3rd Edition – Beta version. Cephalalgia 2013.

Recomendações Top 5 para os Neurologistas, segundo a AAN

Por Maramelia Miranda

Vejam só que interessante: como parte de uma campanha conjunta do Board Americano de Medicina Interna (ABIM – American Board of Internal Medicine) e diversas especialidades médicas, entre elas a AAN – American Academy of Neurology, chamada Choosing Wisely (fazendo escolhas inteligentes), foi publicada ontem, na revista Neurology, uma listinha das 5 coisas boas-inteligentes, de boa prática neurológica, que todo neurologista deve fazer. A campanha já tem várias top lists em diversas especialidades. Agora foi a vez da Neuro…

O curioso é que as recomendações Top 5 – Choosing Wisely da Neurologia… Só tem Don’ts!!!!!

Vejam vocês: (texto transcrito ORIGINALMENTE do paper)

“1: Don’t perform EEGs for headaches.

2: Don’t perform imaging of the carotid arteries for simple syncope without other neurologic symptoms.

3: Don’t use opioids or butalbital for treatment of migraine, except as a last resort.

4: Don’t prescribe interferon-β or glatiramer acetate to patients with disability from progressive, nonrelapsing forms of multiple sclerosis.

5: Don’t recommend carotid endarterectomy for asymptomatic carotid stenosis unless the complication rate is low (<3%).”


Para quem quiser saber mais, acesse o link do artigo, que descreve também as recomendações “finalistas”, votadas pelo board de neurologistas que participaram da “eleição”. Foram 11 as recomendações “finalistas”. Querem saber quais as outras, que perderam para os Top 5 acima?!

Não vou contar… Vejam (leiam) vocês mesmos… Curiosity!!!!

No final das contas, é aquilo que sempre falo e o que advoga o nosso blog (não à toa, nosso slogan): NEUROLOGIA INTELIGENTE…

Não vamos fazer coisas “burras” e fúteis por aí. Agora está publicado.


LINKS

Langer-Gould et al. The American Academy of Neurology’s Top Five Choosing Wisely recommendations. Neurology feb 22, 2013.

CHOOSING WISELY INITIATIVE

American Heart Association – Heart Disease and Stroke Stats – Update 2013

Por Maramelia Miranda

Para atualizar nossas apresentações. Novos números e dados epidemiológicos das doenças cardio e cerebrovasculares, compilados pelas entidades AHA – American Heart Association, CDC – Center for Diseases Control and Prevention, e NIH – National Institute of Health.

Acesso livre no site da Circulation 2013.

LINK ABAIXO

AHA Statistical Update. Heart Disease and Stroke Statistics – 2013 Update. A report from American Heart Association. Circulation 2013; 127:e6-245.

Diretrizes Brasileiras para o manejo do AVC isquêmico agudo: atualização 2012

/

Por Maramelia Miranda

A Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares publicou, no final do ano passado (2012), na revista Arquivos de Neuropsiquiatria, a atualização da diretriz brasileira de manejo do AVC isquêmico agudo. O documento, pela sua extensão, foi dividido em duas partes, sendo a primeira relacionada às questões mais gerais e de diagnóstico, e a segunda sobre o tratamento na fase aguda.

Para guardar e divulgar.

Links abaixo, acesso livre na revista.

Guidelines for acute stroke treatment – Part I

Guidelines for acute stroke treatment – Part II

Consenso brasileiro sobre o tratamento do AVC isquêmico agudo: Atualização 2012 publicada

Por Maramélia Miranda

Saiu online. Após 6 anos do primeiro consenso, agora há um novo documento que compila recomendações novas, advindas das últimas evidências publicadas neste período. A primeira parte deste consenso aborda aspectos do AVC como emergência médica, o atendimento pré-hospitalar e chegada do paciente à emergência, além da avaliação por imagem e laboratorial.

Texto completo, online, na página dos Arquivos de Neuropsiquiatria, gratuito para download, AQUI!!!!

Aguardaremos a parte II, que trará os avanços e novas diretrizes sobre o tratamento especificamente…

Um bom documento para levarmos aos diretores e gestores dos nossos hospitais de atuação…

“Science Advisory” sobre prevenção de AVCi em Fibrilação Atrial é publicado pela AHA/ASA

Por Maramélia Miranda

No dia 2 de agosto último a American Heart Association/American Stroke Association publicou online uma complementação à sua diretriz de prevenção primária em AVCi para portadores de Fibrilação Atrial não valvular, incluindo a recomendação dos novos anticoagulantes ao arsenal terapêutico já referendado previamente (warfarina e dabigatrana). Agora estão oficialmente indicados também o apixaban e rivaroxaban.

Pela nova recomendação, agora warfarina, dabigatrana, apixaban e rivaroxaban estão todos indicados para a prevenção de um primeiro evento de AVCi ou de recorrência (prevenção secundária) em casos de FA não-valvular.

O update atenta, entretanto, que a segurança e eficácia da combinação destas drogas com antiagregantes plaquetários ainda não foi estabelecida por estudos clínicos.

Lembrando que este e todos os guidelines publicados pela AHA/ASA são de acesso livre e gratuito, disponíveis para download em arquivos PDF.

LINK

Furie et al. Oral Antithrombotic Agents for the Prevention of Stroke in Nonvalvular Atrial Fibrillation: A Science Advisory for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke 2012.

Guidelines sobre Status Epilepticus e US Transcraniano em Morte Encefálica

Por Maramelia Miranda e Daniela Laranja

Nos últimos meses, foram publicados duas novas e interessantes diretrizes na área de Neurointensivismo:

1 – Para nos guiar no manejo de Status Epilepticus, guideline elaborado e publicado pela Neurocritical Care Society;

2 – A diretriz brasileira sobre o uso de Ultrassom Transcraniano (Doppler Transcraniano e Color Doppler Transcraniano) na propedêutica do diagnóstico de Morte Encefálica.

Para acessar os respectivos documentos, clique abaixo nos links diretos.

LINKS

Brophy et al. Guidelines for the Evaluation and Management of Status Epilepticus. Neurocrit Care 2012.

Lange et al. Brazilian guidelines for the application of transcranial ultrasound as a diagnostic test for the confirmation of brain death. Arq Neuropsiquiatr 2012;70(5):373-80.

Novo guideline sobre Hemorragia Meníngea é publicado pela American Heart Association

Opa!!!

Estamos realmente entrando na ” temporada” de updates dos guidelines. Agora chegou a vez da diretriz da AHA/ASA sobre Hemorragia subaracnoidea (HSA) após ruptura de aneurismas cerebrais… Este documento foi publicado ontem, 3 de maio de 2012, na revista Stroke – artigo na íntegra – AQUI…

NOVAS RECOMENDAÇÕES. Dentre os tópicos que destaco, vejam abaixo:

  • Imagem vascular pós-operatória do aneurisma é recomendada – para verificar se houve a oclusão completa do aneurisma (Classe I)
  • Angio cerebral digital com software 3D – recomendada na investigação e planejamento terapêutico (Classe I)
  • Ácido tranexâmico ou aminocaproico (drip curto, timing < 72h pós ruptura, e antes da clipagem ou coiling) para redução de taxas de ressangramento (Classe IIa)
  • Discussão conjunta multidisciplinar entre neurocirurgiões e neurointenvencionistas para a abordagem melhor, levando em conta o paciente, o aneurisma e suas características (Classe I)
  • Para os casos passíveis de clipping (neurocirúrgicos) ou coiling (neuro-endovascular), considerar terapia endovascular (Classe I) — Ai ai ai… Agora o bicho vai pegar!
  • Cirurgia (clipping) deve ser considerada nos casos de hematomas grandes e nos aneurismas de cerebral média (Classe II)
  • Em mais idosos (> 70a), HSAs graves e aneurismas de topo de basilar, considerar primeiro coiling (Classe II)
  • Preferência por tratar os casos em centros com bom volume de casos por ano (>35 casos/ano)(Classe I)
  • Euvolemia é recomendada para prevenir DCI – delayed cerebral ischemia (DCI) (Classe I)
  • Atenção defensores dos 3-H: hipervolemia profilática não é recomendada antes do aparecimento de vasoespasmo angiográfico (Classe III)
  • Doppler transcraniano para monitorar o vasoespasmo é aceitável (Classe II)
  • Nos casos com DCI já instalada, hipertensão é recomendada (Classe I)
  • Uso de anticonvulsivantes profilático é aceitável (Classe II); mas seu uso a longo prazo deve ser evitado (Classe III)
  • Transfusão sanguínea em casos com anemia ou risco de isquemia é aceitável (Classe II)
  • Angioplastia e/ou com vasodilatadores é aceitável para os casos de vasoespasmo sintomático (Classe IIa)
  • Derivação ventricular externa deve ser feita em hidrocefalia sintomática (Classe I), e derivação ventricular definitiva deve ser feita em hidrocefalia sintomática crônica (Classe I)

HSA por ruptura de aneurismas cerebrais: update.

Practice Guidelines da American Academy of Neurology: Migrânea episódica em adultos

Por Maramelia Miranda

A Academia Americana de Neurologia publicou neste mês dois artigos de update sobre migrânea episódica no adulto, a respeito do tratamento preventivo e uso de anti-inflamatórios e outras terapias nesta situação. Os documentos foram publicados na Internet e na revista Neurology, na forma de Practice Guidelines.

É uma leitura obrigatória para os neuros, sobretudo os neurologistas clínicos que atuam em consultório e ambulatórios, considerando a alta prevalência da enxaqueca neste tipo de prática clínica.

LINKS

Update: Pharmacological Treatment of Episodic Migraine Prevention in Adults

Update: NSAIDs and Other Complementary Treatments for Episodic Migraine Prevention in Adults