Aspirina e clopidogrel na fase aguda do AIT e AVCi minor: Resultados do estudo CHANCE

Por Maramélia Miranda

Tags: AVCi, tratamento, antiagregação, clopidogrel, dupla antiagregação, aspirina, estudo clínico.

Esta eu já suspeitada. Não à toa, desde os resultados do estudo CHARISMA (anos atrás), vários neurologistas vasculares já usavam, na sua prática clínica diária, a dupla antiagregação plaquetária na fase aguda, nos casos de AVCi. Me incluo neste grupo.

Alguns, inclusive, extrapolavam as recomendações das principais sociedades neurológicas, e “seguiam” os nossos coleguinhas cardiologistas, dando bolus de clopidogrel na chegada do paciente com AVC isquêmico agudo, ainda na sala de emergência… Isso eu confesso que ainda não fazia.

O estudo CHANCE – Clopidogrel versus aspirin in High-risk patients with Acute Non-disabling Cerebrobascular Events (## como são criativos estes caras que inventam os nomes dos estudos…), realizado e financiado pelos chineses de Beijing, comprovou que realmente… Existe este benefício!

Wang e colaboradores estudaram 4827 pacientes (quase 5000 indivíduos!!!), dividindo-os em dois grupos: tratados com aspirina sozinha versus aspirina e clopidogrel (bolus de 300mg + 3 meses de dupla antiagregação com aspirina + Clop 75mg/dia). Analisaram os desfechos clínicos de AVCi ou AVCh nos 3 primeiros meses após o evento índice. Estudaram apenas AVCi minor (com escala de NIH menor ou igual a 3) e AIT com alto risco de recorrência (ABCD2 >4).

Resultado principal: Veja o gráfico:::

O risco de novos eventos isquêmicos foi de 11,4 vs 7,9%, a favor do grupo tratado com dupla antiagregação na fase aguda (p<0,001). Resultado com significância estatística.

Os resultados, desenho do estudo, financiadores, médicos colaboradores e tabelas/gráficos, estão em formato PDF para livre acesso, no site da AHA –  AQUI, e foram apresentados hoje, no congresso americano de AVC, no Havaí.

OBS 1::: Nova CHANCE ao clopidogrel + aspirina…

OBS 2::: CHANCE – Clopidogrel versus aspirin in High-risk patients with Acute Non-disabling Cerebrobascular Events (## será que são esquizofrênicos, ou autistas, ou superdotados, ou obssessivo-compulsivos … Estes caras que inventam os nomes dos estudos…???)


CLOSURE I: Fechamento de Forame Oval Patente é semelhante ao tratamento médico em pacientes com AVCi criptogênico

Por Maramélia Miranda

Fechamento de forame oval patente (FOP) no AVCi.

O CLOSURE I foi um importante estudo prospectivo e randomizado, financiado por uma das companhias que produz os devices de fechamento – NMT Boston –  e planejado para avaliar a conduta endovascular (fechamento percutâneo) versus o tratamento conservador em casos de AVCi ou AIT com etiologia criptogênica / indeterminada.

Nosso blog já tinha adiantado este resultado desde 2010, e agora saiu, finalmente!, a publicação do trial na NEJM. Furlan e colaboradores estudaram 909 pacientes de 18 a 60 anos com AVCi criptogênico e FOP, comparando o tratamento médico versus o seu fechamento percutâneo, e analisando desfechos de AVCi ou AIT em 2 anos, morte em 30 dias, ou morte de causa neurológica em 2 anos.

Houve AVCi ou AIT em 2 anos: em 5,5% dos casos submetidos ao fechamento versus 6,8% no grupo tratado clinicamente (HR 0,78, 95% CI, 0,45-1.35, p=0,37). Ou seja: sem diferenças. Frustrante.

Conclusão (transcrevo o texto do abstract):

“In patients with cryptogenic stroke or TIA who had a patent foramen ovale, closure with a device did not offer a greater benefit than medical therapy alone for the prevention of recurrent stroke or TIA”

Leiam o abstract AQUI. Tem também editorial, de S Claiborne Johnston, da UCSF.

Será o fim do tratamento percutâneo de FOP em AVCi? Certamente não. Mas uma boa mensagem para nosso aprendizado é avaliar bem os casos criptogênicos, discutir com os pacientes quando há ou não FOP, avaliar se há realmente risco de recorrência de eventos, a presença de eventos prévios, a anatomia do defeito septal, e mandar fechar FOPs apenas em casos bem, bem, bem selecionados.

E que venham o RESPECT e o REDUCE!!!!

ABCD2 Escore: útil ou fútil?

Já sabemos que a AHA/ASA recomenda o escore ABCD2 para estratificar o risco de eventos futuros em pacientes com AIT, indicando esta ferramenta para auxiliar o manejo ambulatorial ou hospitalar dos casos de AIT.

Entretanto, um grupo de pesquisadores do Canadá quis provocar esta questão, e publicou as conclusões do primeiro estudo prospectivo a este respeito, que tentou validar esta escala, analisando mais de 2000 pacientes admitidos em emergências de hospitais canadenses, e demonstrando que um escore de mais de 5 na escala ABCD2 teve baixa sensibilidade  (31.6%; 95% CI, 19.1% – 47.5%) para predizer a ocorrência de um AVC em 7 dias. Quando o desfecho calculado foi de AVC em 90 dias, a sensibilidade foi de 29.2% (95% CI, 19.6% – 41.2%).

As sensibilidades encontradas neste estudo foram consideradas bastante baixas para serem clinicamente aceitáveis como ferramentas de estratificação de risco, segundo o autor principal do estudo, Jeffrey Perry.

Conforme critério proposto pela AHA, um escore ABCD2 > 2 resulta em sensibilidade de 94.7% (95% CI, 82.7% – 98.5%) para a ocorrência de AVCi em 7 dias, mas com especificidade de apenas 12.5% (95% CI, 11.25 – 14.1%).

Segundo a publicação canadense, o ponto de corte proposto pela AHA, de 2 na escala ABCD2, é muito baixo e pouco discriminativo para predizer um AVC nos primeiros dias do evento índice.

Resumindo, os autores do estudo concluiram que o escore ABCD2 teve pouca acurácia, em qualquer ponto de corte, como preditor de AVCI.

Comentário: aqui pra nós, isso ainda vai dar o que falar…

Para ler mais, acesse o artigo na íntegra AQUI.

Publicado: TWO ACES – Protocolo clínico sobre avaliação ambulatorial de pacientes com AIT

Como agir diante de um caso de AIT ou AVCI minor? Usar a escala ABCD2? Internar todos os casos?

Internar na ala? Na UTI? Como manejar? E qual é o risco de liberar um paciente destes para investigação ambulatorial?

A segurança de avaliar pacientes com AIT em ambiente extra-hospitalar, taxas de recorrência de pacientes tratados na sala de emergência, no hospital, ou na clínica de AIT… São várias dúvidas. E o estudo TWO ACES – Transient ischemic attack Work-up as Outpatient Assessment of Clinical Evaluation and Safety, publicado online no site do Stroke Journal, há dois dias, tenta responder algumas destas perguntas.

O pesquisador principal é Jean Marc Olivot, do centro de AVC da Stanford University, em Palo Alto, grupo  liderado pelo neurologista Gregory Albers, conhecido neurovascular americano.

O estudo concluiu que as taxas de AVC em até 90 dias foram de 0.6% (0.1%–3.5%) para os pacientes encaminhados à clínica de AIT, e de 1.5% (0.3%–8.0%) para os pacientes hospitalizados, com uma taxa global (dois grupos combinados) de 0.9% (0.3%–3.2%), resultados significativamente menores do que o observado nas triagens baseadas no ABCD2 escore (P=0.034 em 7 dias e P=0.001 em 90 dias).

Para acessar o abstract, clique aqui. Quem quiser o artigo original, pode me mandar um email pessoal, que envio aos interessados.