Vitamina D na Esclerose Múltipla: A verdade

Por Maramélia Miranda

Muito se fala, em jornais, revistas, blogs, mas sobretudo em redes sociais e circulando livremente na Internet, sobre um tipo de  tratamento com doses super altas de vitamina D para tratar os portadores de esclerose múltipla.

Na semana passada, tive a oportunidade de assistir um documentário sobre o cérebro, no programa Globo Repórter, na rede Globo, e me causou espanto a forma totalmente descuidada de como a reportagem tratou de um tema muito polêmico, do dito tratamento experimental, que inclusive, como a mesma reportagem mostrou, tratamento que não tem comprovação nem reconhecimento como efetivo pela Academia Brasileira de Neurologia, órgão máximo que rege a especialidade no nosso país. O detalhe é que a Rede Globo mostrou uns 10 segundos de fala da ABN, contra um bloco inteiro mostrando os pacientes “milagrosamente” curados pela terapia…

Postei este texto na seção destinada aos pacientes, e coloco aqui para nossa reflexão. Porque os pacientes ficaram em polvorosa, cheios de dúvidas e ligaram desesperadamente para saber maiores explicações. A missão principal deste modesto blog é informar e esclarecer, de forma totalmente imparcial e prezando pela verdade absoluta, sem marketing, sem promoção de ninguém ou de qualquer tipo de droga, tratamento ou terapia, qualquer que seja esta ou aquela… A seguir, a verdade, alguns fatos sobre tudo isso:

1 – Existe SIM, uma relação entre a vitamina D e a esclerose múltipla. Já há centenas de trabalhos mostrando esta relação… A distribuição da incidência da doença nas regiões do mundo, com maior número de casos em países menos ensolarados, pesquisas epidemiológicas, séries retrospectivas de casos, relação entre níveis de vitamina D e atividade da doença, etc… E este tipo de fator de risco (ambiental – exposição solar e relação da vitamina D) é um dos, senão o mais estudado atualmente pela comunidade científica que lida e pesquisa a EM.

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2 – Entretanto, apesar de evidências fortíssimas desta relação, o tratamento baseado em doses altas de vitamina D para esta doença é um tipo de tratamento experimental, que ainda não foi comprovado em estudos clínicos de boa qualidade, prospectivos (aqueles que são pré-planejados para avaliar qualquer tipo de tratamento) e controlados (que usam outras terapias ou placebo, para comparar o tratamento supostamente benéfico).

3 – Para quem quer fazer, ou prescrever esta linha de tratamento, é preciso saber da falta de evidência científica, com trabalhos de boa qualidade, sobre esta terapia. Aos pacientes portadores de EM, poderão fazer uso do dito tratamento, caso concordem e tenham ciência de que isso seja feito no contexto de uma pesquisa clínica, ou, por decisão pessoal do paciente e familiares, quando estes já estão cansados, desanimados, desesperados, ao ponto de “chutar o pau da barraca”, “jogar tudo pro alto” e partir para uma terapia alternativa ainda não comprovada cientificamente. Seria algo como, por exemplo, a história do tratamento com stents nas veias do cérebro para a mesma Esclerose Múltipla (lembram desta história?! Veio, veio, e acabou morrendo na praia depois dos estudos controlados).

4 – Enquanto isso… Todo bom neurologista irá, certamente, pedir a dosagem da vitamina D para os casos todos de EM, e repor esta vitamina em casos de deficiência. Ou até mesmo querer manter níveis de vitamina D um pouco acima dos valores habituais discriminados pelos laboratórios… Há alguns trabalhos demonstrando que isso pode ser feito… Até aí, tudo bem…

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5 – Acredito que todos os neurologistas comprometidos com a boa prática médica, e neste grupo me incluo e me esforço em permanecer, todos continuaremos aguardando ansiosos os trabalhos e artigos dos colegas neurologistas que usam este tratamento experimental / alternativo. Afinal, se estes profissionais (daqui do Brasil e de outros países também!) possuem as suas séries de 500-900-1500 casos de EM com evolução absurdamente “incríveis” que ficam “anos e anos sem surtos”… Tudo isso por causa das doses altas de vitamina D… Fico me perguntando constantemente::: Por que será que eles não publicam logo estes casos, my God!???? Eu já  teria feito isso nos primeiros 100 casos tratados… O que será que este grupo está esperando para publicar isso?!

Enquanto isso, o estudo de fase 3 comparando a terapia convencional com a terapia adjuvante de altas doses de vitamina D já está em andamento (EUA e Canada), e teremos estes resultados logo logo, em cerca de 2-3 anos. Particularmente, acho que será positivo.

Somente a partir daí, com estas evidências em mãos, nós poderemos prescrever este tipo de tratamento sem fazer “experiências” com os nossos pacientes.

Por fim, esclareço: não sou contra as doses altas de vitamina D. Sou a favor dela, tenho até esperança que seja benéfica, mas sou principalmente a favor de que possamos ter certeza que esta terapia é – primeiro – segura para ser dada, e segundo, efetiva para os nossos queridos pacientes. Para isso, precisamos da evidência científica de boa qualidade.

Pronto. Falei.

LEIA MAIS

Texto para os pacientes – “Vitamina D na Esclerose Múltipla: A verdade” – e alguns comentários de pacientes sobre o tema.

Vitamina D e Esclerose Múltipla: Mais evidências desta interação – Post publicado no final de 2012 sobre novos estudos publicados.

Insuficiência Venosa Cerebral Crônica pode ser a causa da Esclerose Múltipla: Será?!

 


4 thoughts on “Vitamina D na Esclerose Múltipla: A verdade”

  1. Caro leitor (que postou msg aqui ontem a noite), seu post que tentei publicar (escrito ontem) — ao clicar em publicar – sumiu!!! Procurei demais ele nos arquivos de comentários — não encontrei… Não seu se foi por causa do tamanho dele… Mas seria muito importante divulgar seu testemunho para os pacientes. Se puder reescrever – em Partes, seria melhor para não dar problema pelo tamanho. No aguardo!

  2. Boa-tarde, qual foi a sua impressão sobre os depoimentos dos dois pacientes do referido neurologista que aplica o tratamento com superdoses do hormônio colecalciferol?

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