Ultrassom Transcraniano em Distúrbios do Movimento

Por Maramélia Miranda

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Veja onde fazer AQUI.

Antes da década de 70-80, os diagnósticos neurológicos eram feitos sem tomografia, muitas vezes apenas com a correlação anátomo-clínica aliados a uma boa propedêutica neurológica. Havia no máximo angiografias e pneumoencefalografias para auxiliar os neurologistas nos seus diagnósticos. A tomografia computadorizada (TC) e depois a ressonância magnética (RNM), com suas imagens maravilhosas, revolucionaram a nossa especialidade. O tempo tratou de deixar a época pré-TC e RNM como um relato histórico da evolução tecnológica na Medicina.

História: aspecto de uma hidrocefalia na pneumoencefalografia. Fonte: Uniformed Services University, New York.

E o que restam de doenças neurológicas onde o diagnóstico é essencialmente clínico? Alzheimer? Cefaléias? Bem, uma delas é a Doença de Parkinson. Sabemos que nada, nenhum exame complementar consegue dar este diagnóstico, a não ser uma boa anamnese e detalhado exame neurológico para detecção dos seus sinais cardinais (tremor, rigidez, bradicinesia, instabilidade postural). Certo?

Mais ou menos.

Ultrassonografia Transcraniana

Antigamente era impossível examinar o cérebro com ultrassom, pela impossibilidade total de penetração dos feixes ultrassônicos através do crânio. Aaslid iniciou em 1980 o uso de Doppler transcraniano na forma de curvas espectrais e análise das velocidades de fluxo das grandes artérias intracranianas.

Há 12 anos, um alemão chamado Georg Becker, fazendo exames de ultrassonografia (US) transcraniana com aparelhos mais modernos do que os da década de 80, em pacientes com Parkinson, observou uma alteração na ecogenicidade do mesencéfalo predominante na área correspondente à substância nigra dos doentes parkinsonianos idiopáticos.

Anos mais tarde, e até hoje, colegas neurossonologistas europeus replicam seus achados iniciais, e com o desenvolvimento constante dos aparelhos de ultrassonografia e de suas imagens de maior resolução, atualmente os novos aparelhos conseguem demonstrar com bastante clareza o que Becker viu em 1995.

A ultrassonografia transcraniana com modo B, que mostra as estruturas do parênquima cerebral em tons de cinza, consegue detectar hoje o que os mais novos aparelhos de ressonância magnética (com campos de 1,5 a 3T) ainda não conseguem ver: uma alteração presente em pouco mais de 90% dos indivíduos com Doença de Parkinson (DP) idiopática, prevalência bem diferente da observada nos idosos normais ou em outras formas de parkinsonismo — a hiperecogenicidade da substância nigra (vide abaixo).

Fatos: US Transcraniana hoje

Hoje sabemos que a hiperecogenicidade da substância nigra está relacionada à deposição de ferro e provavelmente outros metais, nesta região. O aumento desta área, detectada exclusivamente pelo US do parênquima cerebral, está presente em cerca de 90% dos indivíduos com DP idiopática e em cerca de 8-10% dos indivíduos normais. E vamos além: os idosos normais com este achado ultrassonográfico terão cerca de 20 vezes maior risco de desenvolver DP ao longo de 5 anos (Berg e col., Ann Neurol 2011, Mov Dis 2012 – Links abaixo).

Ou seja, a hiperecogenicidade da substância nigra é provavelmente, junto com hiposmia e depressão, um “novo” marcador pré-clínico da doença. Sabe-se também que a presença da hiperecogenicidade da SN não está associada à duração ou à progressão da Doença de Parkinson. Menos de 10% dos portadores de parkinsonismo atípico apresentam a hiperecogenicidade da substância nigra visualizada pelo US do parênquima cerebral.

Portanto, fica a dica: nos casos de parkinsonismo iniciais, com dúvida diagnóstica; nos casos onde é difícil diferenciar entre tremor essencial de um quadro inicial de DP; em casos de idosos com sintomas depressivos com bastante bradicinesia ou hipomimia; nos casos com suspeita de parkinsonismo atípico… Estas são as situações principais onde o uso de novos métodos, como Spect com TRODAT (falarei futuramente em outro post), ou o ultrassom transcraniano do parênquima cerebral pode ser útil para a avaliação dos pacientes.

Obs. Em São Paulo, apenas quatro locais disponibilizam este exame para realização. Clique AQUI para saber onde.

LINKS

Becker et al. Degeneration of substantia nigra in chronic Parkinson’s disease visualized by transcranialcolor-coded real-time sonography. Neurology 1995.

Berg, Godau et Walter. Transcranial sonography in movement disorders. Lancet Neurology 2008.

Berg et al. Enlarged hyperechogenic substantia nigra as a risk marker for Parkinson’s disease. Mov Dis 2012 ASAP.

Berg et al. Enlarged Substantia Nigra Hyperechogenicity and Risk for Parkinson Disease. A 37-Month 3-Center Study of 1847 Older Persons. Arch Neurol. 2011;68(7):932-937.

Busse et al. Value of combined midbrain sonography, olfactory and motor function assessment in the differential diagnosis of early Parkinson’s disease. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2012;83:441-7.


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