Mais uma lambança do Aloísio Mercadante…

Por Maramélia Miranda

Em junho, querendo responder às manifestações apartidárias das ruas, primeiro vieram com a história da Assembléia Constituinte. Depois, Plebiscito, Referendo, consulta popular… Integrantes do governo declararam as ideias que surgiam nos gabinetes de Brasília dia após dia, como quem troca de roupa. Sem o mínimo cuidado de consultar técnicos ou especialistas no assunto. Donos da verdade. Sabem resolver os problemas sozinhos. Vejam AQUI – artigo de Elio Gaspari (Mercadante, o Articulador do Caos).

Tirem os microfones dele, por favor. Tudo o que sai termina morrendo na praia...
Tirem os microfones dele, por favor. Tudo o que sai termina morrendo na praia…

No começo de julho, numa véspera de feriado em São Paulo, lançaram oficialmente um programa chamado “Mais Médicos”, publicaram Portaria Interministerial, Medida Provisória, tudo pronto, textos completos, critérios estabelecidos, prazos definidos, tudo acertado, documentado em Diário Oficial.

Opa! Acertado com quem? Como fizeram isso sem ter havido qualquer discussão? Como!? Diretores das faculdades, reitores, entidades médicas, estes últimos os responsáveis diretos pela emissão dos supostos registros profissionais “provisórios”!? Ninguém estava sabendo!

Susto geral. Sobretudo diante da forma como a coisa foi feita, enfiada goela abaixo, de forma absolutamente ditatorial. As tais medidas escancararam a percepção do despreparo de quem as criou, que não considerou (mais provavelmente, desconhecem) como é a nossa realidade (do SUS, da estrutura, dos médicos, dos hospitais públicos). Medidas feitas por burocratas, que só entendem de ofícios, pedidos de cargos, nomeações, solenidades e vôos em jatinhos da FAB e helicópteros do governo.

Há duas semanas, o Ministro da Educação Aloísio Mercadante, anunciou uma comissão para “amadurecer” e ”aperfeiçoar” a MP dos médicos, composta por diretores de cursos de Medicina e reitores de Universidades Federais. Ah…! Finalmente “lembraram” que precisam conversar com os responsáveis diretos pelo ensino médico do país? Que feio, senhor ministro… Fala uma coisa e depois emenda uma comissãozinha para “estudar o assunto”?!

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Nos últimos anos, tenho acompanhado atos do Ministério da Saúde, que vinha fazendo regularmente consultas públicas, argüindo a sociedade civil e profissionais de Saúde, abrindo debates amplos sobre diversos temas, para aperfeiçoar e implementar programas de Saúde como, por exemplo, Protocolos de Diretrizes Terapêuticas em várias áreas de atuação. Estes debates, construídos com a união de todos os atuantes nas respectivas áreas, reconheço, julguei ser um grande avanço. Defendi e divulguei, com orgulho. Demonstração de Democracia. Exatamente o que não houve nas últimas empreitadas do governo. (A sensação é de vergonha, pelo que anteriormente havia defendido)

Hoje (31 de julho), leio o noticiário: O mesmo Aloísio Mercadante, o mesmo interlocutor governamental que falou de Constituinte (que durou 24 horas), Plebiscito (durou menos de uma semana!), Consulta Popular (o mesmo tempo), Referendo (esta idéia durou uns 10 dias…) e por último o curso de Medicina em 8 anos, querendo obrigar estudantes ao trabalho civil obrigatório por 2 anos de suas vidas, agora declara:

“… agora a proposta é que os 2 anos extras sejam residência, sendo o 1º ano no serviço de emergência do SUS.”

Ora!!! Primeiro eles chegam a publicar em Diário Oficial que haverá supervisores e tutores para fiscalizar estes estudantes-médicos nos tais 2 anos extras… Pergunto: de onde surgiriam estes supervisores? Brotariam, por acaso, do chão dos interiores do Brasil? Cairiam dos céus das periferias das grandes cidades? Se já está difícil arrumar um médico que seja, um apenas, para estes locais…?! Imaginem os tais “supervisores” e “tutores-docentes”? Ou seja, como todos nós médicos já havíamos comentado profusamente em rodas de colegas, familiares, nos nossos trabalhos, comunidades, redes sociais etc… FALÁCIA! MAIS UMA! E, VERGONHOSAMENTE, mais uma vez o mesmo Mercadante volta atrás.

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Alguém precisa dizer, ensinar ou, se preciso for, desenhar para os nossos governantes, que ninguém faz nada sozinho! Querem uma Constituinte? Discutam o assunto com o Congresso, vejam se é o caso. Pensam em fazer Plebiscito em 2 meses, a toque de caixa? Conversem com o Judiciário para uma análise se é tecnicamente legal, e viável. Querem mudar a formação médica brasileira e aumentar as vagas da Medicina? Chamem reitores, professores, diretores das faculdades de Medicina. Conversem com as entidades de classe. Escutem os residentes médicos. Saibam como é a vida real.

Parem de tratar a população brasileira como fantoches ou material de experimentação humana-científica-governista-eleitoreira ou o que quer que queiram definir, e a nós profissionais médicos como se fôssemos brinquedinhos, querendo decidir sobre a nossa profissão, formação, educação, especialização, etc, como se de nada adiantasse a nossa realidade, a nossa experiência e conhecimento sobre este assunto que, definitivamente, vocês de Brasília, não conhecem: Saúde do Brasil.

A imagem da Saúde que vocês conhecem, senhores políticos, são os corredores do Sírio-Libanês e os consultórios médicos da Rua Barata Ribeiro!

Apenas!


One thought on “Mais uma lambança do Aloísio Mercadante…”

  1. Em tempo: a história da Medicina em 8 anos durou exatos 21 dias (o programa foi lançado no dia 8 de julho). Eh Mercadante, nem um mês!? Mas pelo menos durou mais do que as outras “ideias”… (plebiscito, constituinte, consulta, referendo, etc).

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